5 mitos sobre a igreja anglicana


Esse ano (2017) comemoramos 500 Anos de Reforma Protestante. Tantos anos depois, e tanto contribuiu a Igreja Anglicana para o progresso da Teologia Reformada, sem que isso impedisse que alguns mitos sobre ela fossem sendo perpetuados no imaginário comum. Nesse texto abordaremos alguns deles.





1. A Igreja da Inglaterra foi reformada para justificar o adultério de um rei?
É verdade que Henrique VIII declarou a independência da Igreja Nacional quando o Papa recusou anular seu casamento, impedindo-o de se casar novamente. Porém, Henrique VIII não reformou a Igreja da Inglaterra quando impediu que o Papa pudesse continuar tendo autoridade sobre ela. 

Quem introduziu a teologia reformada na Igreja foram outros homens, como o Arcebispo Thomaz Cranmer, principalmente. Não se pode negar, contudo, que a jogada política do Rei facilitou muito o trabalho daqueles religiosos que já desejavam levar a igreja inglesa para os braços da Reforma Protestante, e eles souberam aproveitar isso muito bem. Acredita-se que Henrique morreu crendo nos dogmas da Igreja Católica Apostólica Romana, porém, quando seu filho Eduardo VI subiu ao trono, ainda criança, o caminho para a Reforma já estava bem pavimentado.
2. O Chefe da Igreja da Inglaterra é o rei e a rainha do Trono Inglês?
Esse mito existe até hoje porque quando Henrique VIII tirou a autoridade do Papa sobre a Igreja de seu país declarou que o Chefe da mesma era ele. E isso é assim até hoje. 
Se faz necessário compreender este fato historicamente, a fim de evitar cair em interpretações equivocadas - como já demonstramos em uma carta aberta que publicamos.  Antigamente o Papa tinha o poder sobre a Igreja da Inglaterra, tanto espiritualmente quanto politicamente. O rei retirou essa autoridade para impedir que o Papa pudesse continuar interferindo na igreja nacional. Ele nomeou a si mesmo o chefe da Igreja, como uma espécie de guardião e protetor, mas não como pastor ou teólogo. Até hoje é assim, contudo, sem que o monarca inglês possa mandar na Igreja espiritualmente ou teologicamente. Na verdade, inexiste no Anglicanismo uma autoridade central: não há Papa na Igreja Anglicana. 

Ademais, esse papel de protetor e guardião da Igreja existe apenas dentro da jurisdição inglesa, em nada valendo para as igrejas anglicanas espalhadas pelo mundo.

3. A Igreja Anglicana representa apenas uma ruptura com Roma, mas não é uma Reforma de fato?

Outra ideia equivocada é que os anglicanos são iguais aos católicos romanos com apenas algumas diferenças superficiais e estéticas. Mas isso está muito longe de ser verdade. É correto que os anglicanos mantém o legado histórico do cristianismo, seja no campo teológico, espiritual ou litúrgico, porém, isso em nada depõe contra sua herança reformada. 
Mais do que isso. A Igreja Anglicana não é apenas herdeira da Reforma, ela de fato participou ativamente da Reforma: por exemplo, um dos documentos mais importantes na história de boa parte das igrejas reformadas é a Confissão de Fé de Westminster, que nasceu no coração do anglicanismo e cuja base teológica são os 39 Artigos de Religião da Igreja da Inglaterra. Por preconceito ou desconhecimento muitos reformados ignoram os fatos.

Esse mito tem a ver ainda com a ideia daqueles que imaginam ter sido a Reforma uma tentativa de destruir a Igreja para começar tudo do zero. Na verdade, a Reforma foi o trabalho de retirar o excesso de bagagem, de coisas prejudiciais e equivocadas, sem abrir mão de todo o legado cristão. 


4. A Igreja da Inglaterra perseguiu "os puritanos"?

O fato é que naqueles dias tão conturbados praticamente todos os protestantes acabaram perseguindo alguém. Até mesmo puritanos perseguiam outros grupos e quando alguns mais radicais chegaram ao poder, na Revolução Puritana Inglesa, não apenas conduziram a burguesia ao poder, como instauraram uma ditadura sob o domínio de Oliver Cromwell, um puritano.

Mas, não quer dizer que "os puritanos" eram ditadores, mas que puritanos - alguns grupos que assim se denominavam - foram ditadores e sanguinários. Porque na verdade havia vários grupos denominados puritanos. Muitos desses grupos se recusavam a seguir, por exemplo, as ordens litúrgicas vigentes no país, e por isso foram demitidos, expulsos, presos, deportados ou pior. Outros puritanos não tiveram problema algum: inclusive muitos teólogos, diáconos, presbíteros e bispos da Igreja da Inglaterra, e que dela jamais saíram, eram puritanos. Ironicamente, quando os puritanos que foram perseguidos subiram ao poder também instauraram leis litúrgicas que obrigavam todos a obedecer ou...

É correto, portanto, dizer que os anglicanos perseguiram puritanos, e que puritanos perseguiram anglicanos e outros puritanos também, mas é falso dizer a Igreja da Inglaterra tenha perseguido "os puritanos", como se fossem uma coisa só. De modo semelhante é correto dizer que puritanos instauraram um reino de terror na Inglaterra e perseguiram muita gente quando tiveram a chance, mas não se pode dizer o mesmo "dos puritanos" - o que seria injusto com boa parte deles. 

E este é um pecado que todos os herdeiros da Reforma precisam reconhecer: não foram apenas os católicos romanos que tentaram 'converter' o mundo a ferro e fogo. Triste, mas verdadeiro.

5. A Igreja da Inglaterra abraçou o liberalismo.

O cristianismo no Ocidente enfrenta múltiplos desafios e o liberalismo teológico é um deles. É normal que quando os liberais conseguem avanços nos arraiais anglicanos vire notícia no mundo inteiro. Isso se dá porque a Igreja Anglicana é a terceira maior tradição cristã do mundo, ficando atrás apenas do Catolicismo Romano e do Oriental. Mas o liberalismo está em todos os lugares, em todas as tradições.

Mas, apesar de todos os estragos, engana-se quem pensa que o anglicanismo se rendeu ao liberalismo teológico. Muito pelo contrário. É bem possível que o maior enfrentamento contra os liberais esteja agora mesmo sendo encabeçado pelo anglicanismo. Novamente é útil ler a carta aberta que escrevemos ao CACP, e que ja mencionamos nesse artigo. 

fonte: http://olharanglicano.blogspot.com.br/2017/08/5-mitos-sobre-igreja-anglicana.html 

Liberalismo teológico: como a praga liberal começa

 
Sou Anglicano. Isso certamente surpreende muitas pessoas. Afinal de contas, como pode um teólogo reformado, e portanto, conservador, fazer parte de uma tradição cristã que costuma sair no Jornal das Dez por seu nada disfarçado flerte com a teologia liberal? A má fama do Anglicanismo é tanta que, muito recentemente, um casal de homossexuais escreveu ao nosso Bispo no Brasil para saber como faria para congregar conosco na Free Church of England.

Acontece que eu sou Anglicano, mas não sou liberal. E o leitor talvez fique surpreso ao descobrir que milhões de anglicanos são cristãos conservadores. Talvez se surpreenda ainda mais se eu disser que o maior esforço global contra o liberalismo teológico é fruto do trabalho de… Anglicanos! É verdade que nem todos são reformados como eu, mas são conservadores, mesmo discordando deste ou daquele ponto secundário, e as vezes até litúrgico. O problema mais grave nessa história é que os Liberais possuem muito poder econômico, político e midiático. Assim, pouco a pouco, eles vão ganhado espaço na sociedade, no Governo, na Mídia, e na Igreja –  e não apenas nas Igrejas que integram o Anglicanismo, mas também em outras denominações importantes como as presbiterianas, luteranas, metodistas, pentecostais e até dentro do Catolicismo Romano.

Um segundo problema é que não se vende jornal publicando noticias que mostram existir uma maioria cristã, dentro do Anglicanismo, lutando bravamente contra o trator liberal. Mas, se um algum bispo ou presbítero aloprado resolver fazer um casamento gay, certamente sairá em Rede Nacional – mesmo eles agindo contra as regras de órgãos importantes, como a Comunhão Anglicana. Isso explica as pessoas ficarem com a impressão de que Anglicano é tudo igual, e que o Liberalismo dominou tudo e todos. Felizmente isso não é verdade. Até mesmo aqui no Brasil, onde uma grande Igreja Anglicana como a IEAB, adepta do liberalismo, domina o noticiário, há cristãos anglicanos conservadores – ainda que, a alguns anos, a maior parte deles tenha sido excluída pelos liberais, formando hoje a Igreja Diocese Anglicana do Recife, que já foi mais conhecida como Diocese Anglicana do Recife, nos dias do saudoso Bispo Robson Cavalcante.

Mas, apesar dessa longa introdução, não vou falar hoje destes e outros heróis da resistência cristã dentro do Anglicanismo. O que desejo é fazer um alerta importantíssimo, válido tanto para meus companheiro anglicanos, quanto para qualquer outro cristão, servindo ao senhor em qualquer outra tradição eclesiástica. Esse alerta começa com uma questão: Como a praga do liberalismo começa?

Ouvi certa feita sobre o método que seria o adequado para cozinhar um sapo vivo. Não sei se procede, nem o que faria alguém desejar fazer tal coisa, mas vale pela moral da história. Segundo me contaram, para conseguir cozinhar um sapo vivo é necessário ir aquecendo a água aos poucos, para que o coitado vá se acostumando a temperatura crescente e não saia pulando da frigideira. Quando ele se der conta, se é que dará, será tarde demais. Essa história se aplica perfeitamente ao método sorrateiro pelo qual o Liberalismo, moral e teológico, se infiltra numa Denominação, ou mesmo em uma Igreja Local. Os liberais jamais chegam chutando a porta tentando impor sua agenda sem mais nem menos. Existe todo um plano que consiste em ir, lentamente, ganhando pequenos espaços, pequenas lutas, até que, por fim, esteja tudo contaminado.
O apóstolo S. Paulo alertava a Igreja de Corínto sobre este método sorrateiro que o Diabo usa para contaminar o Corpo: “Não é boa a vossa jactância! Não sabeis que um pouco de fermento faz levedar toda a massa? Alimpai-vos, pois, do fermento velho, para que sejais uma nova massa” (I Cor. 5:6,7a). Mas, nem sempre estamos dispostos a nos livrar do fermento; ou, simplesmente achamos que um pouco de veneno não nos fará mau. Como sapos cozidos lentamente, talvez não consigamos acordar a tempo. É assim que o liberalismo, e as heresias mais diversas, vai entrando na Igreja, de modo geral. Se você, como eu, acredita que o “mundo gospel” deturpou a essência do Evangelho, então deves saber que essa mentalidade mundana, carnal e materialista foi chegando aos poucos, seduzindo uns e outros, até que ninguém mais estranhasse o novo cenário. “Ninguém mais”, claro, é modo de dizer, pois Deus nunca deixar de ter os seus milhares que resistem as tentações de Baal.

No final deste ano de 2015, como acontece todos os anos, nossa Igreja, a Free Church of England, se reunirá em seu Sínodo Anual, que possivelmente terá, pela primeira vez, a presença de nosso Bispo Primaz, o Revdm. John Fenwick, da Inglaterra. Um evento muito apropriado para as novas ordenações de presbíteros e diáconos que nossa missão no Brasil tanto precisa. Uma ocasião na qual os candidatos precisam jurar fidelidade ao cristianismo bíblico, e assinar nossa Declaração de Princípios.

Alguns críticos costumam me dizer que tudo isso é um exagero, e que a Igreja não precisa olhar tão de perto para a fé das pessoas, ou de seus ministros ordenados. Será mesmo que não? Ou, posto de outra forma: saberia o leitor me dizer exatamente o que o seu pastor local acredita sobre Deus, o pecado, a santificação, as diretrizes bíblicas sobre o Matrimônio e sexualidade humana? Sabemos o que os professores ensinam em nossos Seminários e Escolas Dominicais? Acredito, de coração, que precisamos e temos o direito de saber!

É por isso que em nossa luta contra o liberalismo temos nos organizado mundialmente para buscar diretrizes claras, através das quais a Igreja possa ter certeza que sua fé está sendo guardada e ensinada com fidelidade, afinal, ela é “a Igreja do Deus vivo, a coluna e a firmeza da verdade” (I Tim. 3:5). Milhões de nós, reunidos em Global Anglican Future Conference (GAFCON), temos por dever aceitar e subscrever uma declaração que, dentre outras coisas, afirma receber como verdade de fé “a criação por Deus da humanidade como macho e fêmea, e o padrão imutável do casamento cristão entre homem e mulher como o lugar apropriado para a intimidade sexual e a base da família. Arrependemo-nos por nossas falhas em manter esse padrão, e conclamamos uma renovação do compromisso de fidelidade duradoura no casamento e de abstinência para os em celibato”.

Um exagero definir as coisas tão claramente, e exigir que as Igrejas e seus representantes subscrevam? Certamente não! Ceder, ainda que um pouco de cada vez, é como ver a barreira de uma represa com pequenos trincos e imaginar que se consertará por si só. É verdade o que dizem sobre a caminhada de 10 kilometros começar com apenas um passo – uma verdade que se aplica também ao método liberal de se infiltrar e atropelar o Cristianismo ortodoxo no Ocidente.

O Dr. David W. Virtue descreve precisamente o método usado pelos liberais. Primeiro, eles chegam dizendo que querem apenas conviver pacificamente, e que não é preciso concordar em tudo com todos. É como um pacto de amizade. Mas, depois de conquistarem esse pequeno espaço, eles se revelam como verdadeiramente são,  a exemplo de bispos progressistas como K. Jeffers Schori ( EUA), Fred Hiltz (Canadá), juntamente com Michael Ingham, ou mesmo o homossexual assumido Gene Robinson, que trabalham ativamente para que “todas as expressões ortodoxas sejam, primeiro, marginalizadas, para em seguida serem expulsas da Igreja, e finalmente destruídas”, explica Dr. Virtue. Em outras palavras, é uma agenda progressista, que vai cozinhando o sapo lentamente, para não assustá-lo, mas que não tem qualquer intenção de deixá-lo vivo.

Concordo, portanto, com a conclusão do autor, que é uma das mais importantes vozes do Anglicanismo conservador na atualidade, e que foi membro por quarenta anos da hoje mais liberal denominação anglicana (TEC). Sua análise final é que “não podemos permitir que o liberalismo sobreviva”. As pessoas imaginam que não existam anglicanos fieis, mas estão erradas. Acontece que esses irmãos estão perdendo seus salários, suas catedrais e paróquias e seminários, e não poucas vezes ainda são arrastados diante de Tribunais seculares. O prejuízo dos cristãos evangélicos, tanto dentro do Anglicanismo, quanto dentro de outras igrejas tradicionais, como a Presbiteriana dos EUA, já ultrapassou em muito a casa dos bilhões de dólares! Um plano esta em curso para destruir o cristianismo ortodoxo, bem como os evangélicais, e nós precisamos estar atentos a isso. O próximo passo na América do Norte, que é um tipo de laboratório para o resto do mundo, parece ser tornar a fé histórica da Igreja uma prática ilegal. Se tiver oportunidade ainda escreverei sobre essa ameaça aqui.

Um exemplo do ódio liberal contra os evangélicos e conservadores foi quanto, não muito tempo atrás, os progressistas de plantão decidiram boicotar um professor universitário conservador. Como Anglicano vou seguir dando exemplos dentro da minha própria tradição: o Bispo N.T. Wrigth, que tem vários livros publicados no Brasil, estava deixando seu cargo como Bispo de Durham, na Inglaterra, para assumir uma cadeira na School of Divinityna University of St. Andrews. Rapidamente os progressistas atacaram, tentando forçar a Universidade a rejeitar o novo professor, acusando-o de ser “homofóbico” – seja lá o que isso significa. Felizmente a instituição não cedeu, nem foi procurar um professor mais tolerante. Writgth assumiu seu novo posto apesar da raiva progressista. E se a Universidade tivesse cedido, indo procurar um professor mais “tolerante”? Teria sido mais um “pequeno” avanço em prol da agenda liberal, que a cada ataque exige uma fatia maior do bolo. Custe o que custar, é preciso resistir e não ceder nenhum passo.

É necessário fazer frente a isso, mesmo que nos coloquem no hall dos “reacionários” da fé. Mais importante que nossa popularidade é ser fiel ao Evangelho do Cristo. Como anglicano, me pergunto porque a Comunhão Anglicana sequer censurou William Temple, que em 1953 publicou um livro no qual afirmava que “não existe tal coisa como verdade revelada”, ou James Pike, que em 1960 declarava que a Doutrina da Trindade era “desatualizada, incompreensível e não-essencial”, ou ainda Ransey, que em 61 surpreenderia o mundo ao dizer que “o céu não é um lugar apenas para os cristãos… espero ver muitos ateus lá”. Será que ninguém viu? Ou os conservadores estavam apenas tentando ser tolerantes? Ora, qual é o limite quando as pessoas começam a questionar as doutrinas mais fundamentais da Fé Cristã, e nada é feito para impedi-las? Para ser justo, a Comunhão Anglicana não poderia punir literalmente um herege porque, ao contrário da Igreja de Roma, nós Anglicanos não possuímos uma sede ou um Papa, todavia, é necessário ter mecanismos que impeçam que as pessoas alterem os fundamentos da fé a seu bel-prazer. Sem tais mecanismos e coragem, os dias da Comunhão Anglicana podem estar contados, já que ela não passa de um enfeite sem qualquer utilidade prática na atual crise.

Precisamos compreender, sejamos Anglicanos ou não, que ceder não é uma opção real. Recentemente um grupo de irmãos insatisfeitos com os rumos da mais antiga e liberal denominação anglicana do Brasil resolveu desligar-se. Não querendo abrir uma nova denominação, procuraram filiar-se a nós, da Free Church of England (também conhecida aqui como Igreja Anglicana Reformada do Brasil), porque possuímos  Ordens válidas e plenamente aceitas pela Igreja da Inglaterra. Além disso, somos membros do GAFCON, a maior instituição anglicana do mundo, depois da própria Comunhão. Mas, em meio ao processo de admissão desses irmãos, o bispo comissionado pela FCE para o Brasil, o Reverendíssimo Josep Rossello, achou por bem verificar as convicções dos mesmos sobre temas importantes da fé histórica, como a autoridade das Escrituras. Infelizmente, constatou-se que, apesar de insatisfeitos com os abusos dos liberais, eles mesmos já estavam flertando com o liberalismo, soubessem disso ou não. Não foram aceitos na FCE, pois um pouco de fermento pode causar muito estrago. E não faltou quem nos taxasse de reacionários e fundamentalistas. Foi uma decisão dura, e triste, mas é preciso não ceder! Um único pastor, ou mesmo professor de seminário flertando com a heresia, querido leitor, pode significar toda uma geração perdida no futuro.

Talvez o leitor já tenha visto em sua própria denominação, ou Igreja local, aqueles que relativizam a autoridade das Escrituras, a exclusividade de Cristo, a moralidade judaico-cristã, ou qualquer outra doutrina fundamental do Evangelho. Cuidado! Como a praga do liberalismo começa? Um passo de cada vez… Que o leitor não se deixe enganar, o ódio dos progressistas contra o Cristianismo histórico não tem limites, e eles estão dispostos a tudo para destruí-lo, mesmo que precisem levar para o abismo todo o Ocidente. Hoje, mais do que nunca, o Senhor convoca soldados dispostos a pagar o preço de resistir. Quem atenderá ao seu chamado? Se não nós, quem?

Não é, entretanto, desejo deste artigo promover qualquer tipo de caça as bruxas, até porque não é necessário: são as bruxas que estão nos caçando! Recai sobre nós o dever de seguir o conselho de Judas de “batalhar pela fé que uma vez foi dada aos santos” (Judas 3b).

Rev. Marcelo Lemos. Presbítero da Free Church of England (IARB), autor do livro “Quem São os Anglicanos?”, e editor do blog Olhar Anglicano.

Metodo de Evangelizacao Puritana, Biblico e Reformado



Pregação Biblica
Por Dr. Joel Beeke

Raízes da evangelização moderna
A fim de compreendermos estes dois pensamentos (o método da evangelização Puritana e a disposição interna do coração) precisamos contrastá-los com a evangelização moderna. Só assim poderemos apreciar o aspecto característico da evangelização puritana. Para isso vamos voltar um pouco ao século XIX para considerarmos as raízes da evangelização moderna.

A evangelização moderna tem as suas raízes nos anos 1820 sob a liderança de Charles Finney, que frequentemente é chamado de "o pai" da evangelização moderna. Finney foi criado em Nova Iorque e tinha o grau de advogado. Começou sua prática como advogado nos anos de 1820 em Nova Iorque. No ano seguinte teve uma experiência religiosa muito profunda e isso o influenciou para que deixasse seu escritório de advocacia e se dedicasse inteiramente ao ministério. Foi ordenado pastor presbiteriano em 1824 e por 8 anos liderou eventos e reuniões de avivamento no leste dos E.U.A. Por quatro anos trabalhou como pastor em Nova Iorque e nos últimos quarenta anos de sua vida foi professor na Universidade de Oberlin no estado de Ohio. Através dessas décadas ele continuou fazendo reuniões de avivamento. Ele inventou aquilo que se chama de "novas medidas" para avivamento que incluem: (a) reuniões com muita emoção e (b) o banco dos "ansiosos". Eram reuniões evangelísticas caracterizadas por uma atividade intensa, que duravam dois ou três dias e nos quais Finney pregava duas vezes ao dia. O banco dos "ansiosos" era o primeiro banco da igreja que era deixado vazio para que as pessoas ansiosas pudessem vir e se assentar ali, recebendo uma ministração individual. No final dos seus sermões Finney diria: "Aqui está o banco dos "ansiosos", se vocês estiverem do lado do Senhor, venham à frente." Hoje a evangelização de massa, é um desenvolvimento das chamadas "novas medidas" dos avivamentos de Finney.

Em suas campanhas evangelísticas, Billy Graham apresenta um estilo polido destas cruzadas feitas por Finney. Essas chamadas ao altar para que as pessoas venham à frente e confessem Jesus Cristo, é uma versão moderna do banco dos "ansiosos". Hoje nós estamos tão acostumados com este estilo de evangelização moderna, que dificilmente percebemos que é uma inovação na história da Igreja. Com frequência nos esquecemos de quão distante está da evangelização bíblica. Tanto Finney, quanto a evangelização moderna, cometeram alguns erros básicos em diferentes aspectos das Escrituras. Vamos mencionar quatro áreas em que se afastaram dos princípios bíblicos.
Deficiências da evangelização moderna
1. Aceitação do pelagianismo. Embora certos elementos calvinistas estejam presentes, a evangelização moderna, seguindo a teologia de Finney, é essencialmente arminiana na sua apresentação do evangelho. Finney era confessadamente um pelagiano (Pelágio foi um herege do século IV que sofreu dura oposição de Agostinho). Ele negava que o homem caído fosse incapaz de se arrepender. Dizia que cada pessoa tem a liberdade e a vontade livre de arrepender-se e voltar-se para Deus; que cada pecador pode resistir ao chamado do Espírito Santo, e que este Espírito apenas apresenta-lhe razões pelas quais ele deve ir a Deus. O pecador, entretanto, é livre para aceitar ou rejeitar as razões apresentadas. Dessa forma, em última análise, a salvação não é uma obra de Deus, é realmente um trabalho do próprio homem. Finney escreveu o seguinte: "Pecadores vão para o inferno apesar de Deus”. Finney negou os cinco pontos do calvinismo, e não subscreveu os ensinamentos de Jesus de que o homem precisa nascer de novo, nascer do alto, doutra forma ele não pode entrar no reino de Deus.
2. Finney e a evangelização moderna colocam uma pressão indevida sobre a vontade humana. Se a vontade humana, pecadora, ué livre, segundo os evangelistas semipelagianos afirmam, a pregação ué reduzida simplesmente a uma batalha entre a vontade dos ouvintes e a vontade do pregador. O resultado disso é que todos os meios que o pregador puder usar para persuadir os seus ouvintes a aceitar a Cristo, acabam se tomando lícitos, mesmo que sejam baseados num excesso de emocionalismo do auditório. O alvo principal nestes casos é mover a vontade do homem, e levá-lo a fazer uma decisão imediata. O contrário disso, vemos no ensino de João 1: 13: “... os quais não nasceram do sangue nem da vontade da carne, nem da vontade do homem, mas de Deus”.
3. Finney e a evangelização moderna reduzem o processo de conversão a um espaço curto de tempo. Isso não é bíblico! A Bíblia apresenta a conversão como sendo um processo por vezes demorado. Entretanto, para a evangelização moderna, a conversão é um processo de mais ou menos dez minutos. Recentemente foi escrito um livro sobre evangelização que faz com que o evangelista caia em profundo sentimento de culpa, se demorar mais de dez minutos para converter alguém. Chegamos a conclusão que, para muitos evangelistas modernos, a salvação não é mais aquele trabalho miraculoso, soberano e misterioso do Espírito Santo de Deus, e sim, o trabalho calculável da ação do homem. Isso é contrário ao que lemos em João 3:8: “O vento sopra onde quer, ouves a sua voz, mas não sabes donde vem, nem para onde vai; assim é todo o que é nascido do Espírito". O que realmente tem acontecido nos últimos 175 anos, é o seguinte: Finney e a evangelização moderna perderam o sentido de conversão bíblica; perderam o conceito de conversão como uma obra miraculosa; perderam o sentimento daquela dependência total do homem em Deus, na sua conversão.
4. Grande parte dos resultados da evangelização moderna é questionável. Diversos estudos têm provado que a evangelização de massa, utilizado em grande parte nas cruzadas, em que o próprio homem decide a sua salvação, leva, finalmente, a um cristianismo muito superficial, que quase não dá fruto. Isso não quer dizer que não existam certos indivíduos a quem Deus realmente converteu em utais tipos de reuniões. A Bíblia diz que Deus pode fazer com que uma vara torta se tome reta. Entretanto, esse fato não nos isenta da responsabilidade em apresentar aos nossos ouvintes uma evangelização bíblico e saudável, uma evangelização que tenha uma profundidade maior, uma evangelização que começa, centraliza-se e termina em Deus. É isso que descobrimos quando nos voltamos upara o método dos puritanos.
Estilo direto de pregar
Quando nos referimos aos métodos da evangelização puritana, não estamos dizendo que devemos copiar cada detalhe dos puritanos. Muito da linguagem dos puritanos, por exemplo, está fora de época. Ainda assim os seus métodos têm muito para nos ensinar. O método puritano foi chamado pelos próprios puritanos, e por estudiosos hoje, de o "estilo direto de pregação". Um dos pais do puritanismo, William Perkins, escreveu o seguinte: "A nossa pregação precisa ser direta e evidente. É um dito comum entre nós: "este foi um sermão direto. "Eu digo que quanto mais incisivo e simples for o sermão, melhor". Um dos grande pregadores puritanos chamado Henry Smith disse o seguinte: "Pregar de uma maneira direta, não ué pregar de uma maneira dura e cruel". Também não significa pregar de qualquer forma, sem estudo. Significa pregar o sentido pleno das Escrituras de uma maneira tão clara que o homem mais simples possa entender o que esteja sendo ensinado, como se ele estivesse ouvindo seu próprio nome ser chamado.
Implementando este estilo simples e incisivo de pregação, os puritanos seguem um processo de três passos:

(1) Escolhem e estudam seu texto. (2) Fazem uma exegese desse texto, dando o seu sentido básico, e em seguida coletam do texto duas ou três doutrinas, que fluem dele. (3) Em seguida, aplicam estas doutrinas de uma forma prática ao coração dos seus ouvintes. Dessa forma, a primeira parte do sermão é exegética, a segunda parte é doutrinária e a terceira é aplicativa. À quarta parte eles chamavam de "como usar", que é a parte prática do sermão, como usar os ensinos na vida diária. Eles dividem a aplicação em duas partes, uma para os ouvintes que são salvos, e a outra para os não salvos. Aplicam a cada indivíduo o que o texto pregado tem a dizer para ele. Dessa forma, o ouvinte, ao sair da igreja, sabia com toda clareza o que aquele texto do sermão tinha a dizer a si em particular.

Vamos focalizar quatro qualidades deste estilo direto de pregar.
1. Usavam um método racional de pregar. Eles pregavam a criaturas racionais. Trabalhavam arduamente para mostrar aos pecadores a loucura de não buscar o Senhor. Eles procuravam mostrar às suas congregações o aspecto racional de todas as doutrinas da graça. John Owen, por exemplo, expunha à sua congregação como a doutrina da eleição era racional e lógica. Eleição é a primeira coisa do lado de Deus, mas é a última coisa que ué conhecida do lado daquele que crê. Eles usavam este tipo de ensino upara alcançar a mente e também a consciência. Labutavam para conduzir cada ouvinte a esta conclusão. Seria totalmente ridículo não buscar o Senhor. Ridículo em função do julgamento que há de vir, mas também em termos da maneira como vivemos nesta vida presente.
2. Tinham uma pregação afetuosa, apaixonada. É uma coisa rara nos nossos dias encontrar um pregador que tanto alimenta a mente dos ouvintes com substância bíblica sólida, quanto também mova os seus corações, com um calor afetivo. Mas, esta combinação era coisa comum aos pregadores puritanos. Falavam com amor e com convicção. Pregavam com uma chamada clara à fé e ao arrependimento. Pregavam com paixão o terror do pecado. Pregavam com calor a respeito de Jesus Cristo. Derramavam do púlpito suas próprias almas em seus sermões. Eles praticamente davam suas vidas pelo seu povo. Suplicavam aos seus ouvintes que se reconciliassem com Deus, não porque pensassem que eles podiam use reconciliar com um Deus santo, mas porque eles sabiam que o Deus todo-poderoso usa a loucura da pregação para salvar aqueles que realmente vão crer. Sabiam, pelas Escrituras, que somente o Cristo onipotente podia vivificar um pecador espiritualmente morto e mortificar a sua pecaminosidade, separá-lo dele mesmo, fazendo-o desejoso de abandonar o seu pecado e voltar-se para Deus e para a salvação completa por Ele oferecida. A pregação puritana apresentava todas estas verdades com paixão.
3. A evangelização puritana era reverente e sóbria. Os puritanos geralmente não usavam humor nos seus sermões; não acreditavam em contar histórias engraçadas com a finalidade de levar pessoas a se interessarem por Cristo. O alvo deles era exatamente o oposto. Eles procuravam fazer as pessoas se tomarem mais sóbrias diante das grandes exigências do Criador e diante do grande juízo que está chegando. Diante da eternidade, Deus é digno de ser adorado; digno por causa dEle mesmo e por causa de Seu Filho.
4. A evangelização puritana se caracterizava por fazer uma análise específica de temas bíblicos. Se um puritano pregasse sobre o inferno, o sermão inteiro seria sobre o inferno. O mesmo aconteceria se pregasse sobre o céu, todo o sermão seria sobre o céu. Noutras palavras, eles pregavam o seu texto o tempo todo. Calculavam que assim, após certo período de tempo, teriam coberto cada assunto principal da Bíblia. Assim, procuravam edificar o seu povo em todo o conselho de Deus, demonstrando sua apreciação por todo o ensinamento das Escrituras. Quero dar alguns exemplos. Os títulos que vou dar agora são de um livro de um puritano: "Quantos Já Experimentaram Uma Vida Seriamente Identificada com Deus?"; "Qual o Melhor Preservativo Contra a Depressão Espiritual"; "Como Podemos Crescer no Conhecimento de Cristo?"; "O Que Precisamos Fazer Para Evitar o Orgulho Espiritual?"; "Como Devemos Lidar Com Doutrinas Que Não Podemos Compreender Completamente?"; "Como Podemos Conhecer de Uma Forma Melhor o Valor Real da Nossa Alma?". Espero que vocês estejam percebendo quão específicos eram os puritanos ao pregarem o seu texto bíblico, e como depois de certo período de tempo eles conseguiam falar a respeito de todo o conjunto de verdades espirituais.

Os puritanos reforçavam os seus sermões com uma evangelização catequética. O pastor puritano típico visitava o lar dos membros da sua igreja pelo menos uma ou duas vezes ao ano. Eles catequizavam cada criança em cada lar e estas crianças também vinham para a aula de catecismo na igreja. Eles treinavam os pais em cada família para que também fizessem o estudo do catecismo com suas crianças no culto doméstico. Normalmente levavam 30 a 40 minutos por dia para essa atividade. No domingo à noite davam treinamento aos pais para que pudessem analisar o sermão do dia com as crianças por duas razões: para levar o sermão ao nível de uma criança e também para levar o pai a lembrar o sermão. Os puritanos tinham como alvo evangelizar a família inteira. Eles não estavam buscando convertidos de "dez minutos" ou uma decisão momentânea do coração. Eles procuravam convertidos que permanecessem convertidos a vida inteira, cujas mentes e corações tivessem sido vencidos, tornando-se cativos pela Palavra de Deus.

Instagram

Você sabe dominar a luxúria?

CLIQUE ABAIXO Combate a luxúria